Andrielle Mendes sonhava, na infância, em virar escritora e cientista. Naquela época, ela tinha uma enorme dificuldade para falar e só conseguia expressar o que estava sentindo, escrevendo. Como não havia “faculdade para escritores”, ela decide cursar jornalismo em 2005. Após cinco anos trabalhando nas redações jornalísticas, ela volta para universidade para fazer mestrado e doutorado, e, em 2023, vence o prêmio Eduardo Peñuela (Compós) de melhor tese de doutorado em comunicação do país com uma tese sobre escritoras indígenas e a descolonização das imagens. Havia se tornado cientista e escritora. Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, hoje Andrielle atua como pesquisadora, professora, e segue escrevendo (e fotografando) poesia.
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Poema autoral: Quebrar correntes
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Antes, eu tinha medo de falar…
E lendo sobre o sexismo,
percebi que sentia medo de falar,
porque eu sou uma mulher
Lembrei das fogueiras e aquilo me queimou por dentro
Antes, eu tinha medo de falar…
E lendo sobre o racismo,
percebi que sentia medo de falar,
porque eu sou uma mulher racializada
Lembrei das correntes e aquilo me aprisionou por dentro
Antes, eu tinha medo de falar…
E lendo sobre o capitalismo,
percebi que sentia medo de falar,
porque eu sou uma mulher racializada empobrecida
Lembrei da fome e aquilo me devorou por dentro
Antes, eu tinha medo de falar…
E lendo sobre o colonialismo,
percebi que eu sentia medo de falar,
porque eu sou uma mulher racializada empobrecida colonizada
Lembrei dos laços e aquilo me amarrou por dentro
Dos ventres espoliados de onde eu vim
Escorre um fio de fala desautorizada
Nasci para falar por mim
Mas também pelas ancestrais que em mim fazem morada
Falo para dentro,
quando não me sinto autorizada a falar para fora
E falando para dentro…
Apago a fogueira da inquisição
Quebro as correntes
Sacio a fome por expressão
E desato os laços
NOS DENTES.






